domingo, 11 de janeiro de 2015

Esporra mental

A vida é constituída por filhos da puta, eu próprio sou um desses filhos da puta. Não consigo parar de me analisar e de, ao mesmo tempo, parar de pensar na cambada de filhos da puta que por aí andam. E... o pior de tudo é que esses cabrões têm sucesso e passam muito bem por exemplares.

Estou no trabalho e ele vem ter comigo a desabafar porque saiu de uma relação há pouco tempo, conta-me coisas pormenorizadas de merdas que ele fez, de tratar a ex ou namorada como um saco de boxe porque ela tinha sido uma cabra, isso não me importa para nada. Já engoli o sémen ao diabo, não é por saber o que é que mais um filho da puta ou menos um fez que vou ficar sensibilizado. O gajo disse que às sete saía do trabalho, como eu só saía às onze ele veio ter comigo depois. Apresentei-o aos meus amigos porque fiquei sensibilizado com aquele atrasado mental, já todos tivemos merdas dessas de andar a bater com os cornos na parede. Ele não se calava e pediu-me para ir até à baixa, como é óbvio, os meus amigos são mais inteligentes do que eu e tiraram-lhe a pinta antes de mim. Disseram que não queriam vir e lá fui eu sozinho com ele. Ele meteu conversa com duas raparigas e estava sempre a dizer que era poeta e que escrevia poesia, eu resumi-me ao meu silêncio porque não me importa. Os meus amigos que realmente escrevem poesia não fazem questão de dizer que o fazem, mas aquela merda ficava-lhe bem e as pessoas achavam um piadão. O atrasado mental parecia o Gustavo Santos, mas com um microfone enfiado no cu. Sempre que abria a boca só saía merda.

Estávamos nós em frente às duas raparigas e aquele deficiente começa a dizer que eu sou poeta e escritor, resumindo: sou o caralho mais velho. Eu fiz questão de dizer que não era porque não me importa para nada, não sei se o que escrevo tem algum valor ou pode vir a ter, não me importa. Eu escrevo porque escrevo e já me iludi antes. Escrever não serve para absolutamente nada, é apenas uma necessidade que não tenho de justificar ou explicar a ninguém. O gajo começa a tentar despir-me, pede-me um texto meu para, segundo ele, declamar, eu deixo-o declamar, seja lá o que isso quer dizer. E o gajo começa a criticar-me a dizer que sou muito sexual e que tenho de escrever de maneira diferente, eu pergunto-me: Quem é este metro e meio de gente para me dizer o que eu devo ou não fazer!? E elas acham-lhe um piadão, eu calo-me e limito-me a observar a ignorância em forma de gente. E apenas disse:
-Ó filho da puta, estás aí a tentar rebaixar-me para te valorizares. Não sejas ridículo!

Como este mundo está habitado pela nossa senhora do além ele passa muito bem por ser um grande senhor, vai ser sempre assim, mais vale um grande orador do que um grande senhor. Um gajo que seja o maior filho da puta e diga a maior barbaridade se for persuasivo vai sempre convencer um grande parte das pessoas e as pessoas vão dizer que ele é um grande homem. Infelizmente há mais burros do que gente por aí, mas pouco importa. Eu guardo-me ao meu silêncio e vingo na merda dos cadernos em aberto. Não adianta tentar explicar coisas inteligentes a pessoas burras, para além de ser uma perda de tempo passamos nós por ignorantes. Não é que eu seja inteligente, até me acho um burro do caralho porque sou limitado naquilo que sei e não tenho muita vontade para conhecer ou saber o que não me apetece conhecer, mas sou perspicaz e não como gelados com a testa. Ele ficou com a taça, eu bazei dali e fui a casa de uns amigos. Os meus amigos são muito mais importantes do que qualquer filho da puta, mas como eu tenho a mania que sou social e simpático dá-me para aturar atrasados mentais de vez em quando. É a puta da vida! Fui a casa deles para recuperar energia, aquele cabrão tira a paciência a um santo. Lá o levei a casa para não o deixar pendurado porque não quero ter de aturar as merdas dele.

Há uns anos atrás eu andava sempre fodido da cabeça porque só me conseguia dar com estes filhos da puta, hoje tenho três amigos e o resto não me importa. De vez em quando falo com pessoas destas. Uma perda de tempo.

Quanto a mim, eu sou um atrasado mental que anda à procura de se encontrar praticamente desde que nasceu. Sempre quis ter uma relação estável e talvez seja por isso que nunca consegui. Habituei-me à ideia de que as gajas são todas umas valentes putas, o que não é verdade porque há muitas mulheres decentes, mas conhecer algumas coisas fode-me a cabeça e leva-me a desacreditar em tantas outras e talvez seja por isso que não consigo ser normal quando estou numa relação. A minha vida há alguns anos para cá resume-se a duas coisas: ou ando com trinta gajas ao mesmo tempo, falo com elas e de vez em quando como uma e outra ou namoro com uma, deixo de falar com toda a gente de flirtar, condiciono-me e tento proporcionar à pessoa que está comigo o melhor e acabo todo fodido às voltas em casa, com vontade de chorar, a querer partir tudo. Só o Gustavo Santos é que acredita no amor sem esperar nada em troca. O meu problema é que nem consigo ser filho da puta nem consigo ser atinado. Sou uma espécie de oito ou oitenta, ou sou cabrão por inteiro ou submisso tipo corno manso. E tudo se resume a isso.

Uma vez eu estava farto de estar em casa e comecei a mandar mensagens a uma delas pelo facebook, já a conhecia da minha antiga escola. Ela disse para eu ir ao café, eu fui, estava com duas horas de sono em cima e fui para lá. Comecei a flirtar, ela disse que tinha lido o Desassossego, eu ajoelhei-me e disse para ela casar comigo, eu não queria casar com ela, ela era gira, mas eu não queria casar com ela. Ela deu para trás. Tirei uma outra qualquer da manga e adivinhei os nomes dela. Não sei como porque nunca tinha lido o BI dela nem nenhum formulário de exame que tivesse o nome completo, também não importa. Comecei a encostar-me tipo gato das botas, a pedir mimos, lambi-lhe o braço e ela sempre a dar para trás. Fomos a casa dela porque o amigo paneleiro tinha de ir para casa. Tudo bem até aí. Eu tinha dito ao meu amigo para se ir embora depois que eu queria que ela me levasse a casa, ela levou. O Joel bazou com uma desculpa toda esfarrapada, mas bazou. Ela levou-me e como eu não queria ir para casa, arranjei uma desculpa e estacionamos em frente à praia, eu só descansei quando lhe espetei um beijo e aquela merda começou. Começo a dizer que estou excitado, a armar-me em espontâneo. Começo a comê-la e pronto, lá vem ela chupar-me e acabei comigo a masturbar-me a mim próprio. Para que é que esta merda serviu? Passadas duas semanas acabei com ela, ela enervou-me porque se pôs com merdas que queria ir de férias com os amigos e não me queria levar com ela. Ainda por cima estava a julgar-me por coisas do meu passado, eu juntei aquela merda toda e mandei-a foder. Disse que não dava mais, ela nunca queria foder de quatro, eu nunca me vinha quando fodia com ela, tratava-a bem e ela mandava sempre mensagens de merda que pareciam esporra elástica, mensagens curtas e práticas. Nunca tive muita paciência para gajas pragmáticas. Disse que não dava mais e nunca falei com ela. A verdade é que eu me sentia apaixonado pela Francisca e nesse dia liguei à Francisca, ela deu-me para trás, como fez antes de eu me ter envolvido com a rapariga que me levou a casa. Recuando três semanas: eu tinha ligado à Francisca, mostrei-lhe que gostava dela e ela estava a começar a dar-me bola depois de três anos de filmes de merda em que ela não me dizia nada, eu não lhe dizia nada. E afins. Como eu gostava dela fui-lhe dizer. Tudo bem. Ela foi para casa de um amigo com piscina à noite, ficou de me ligar e não disse mais nada. Como não disse mais nada eu aproveitei a situação e envolvi-me com outra rapariga, com a rapariga que acabou em frente a minha casa a fazer-me um bico.  O mais incrível é que recebi uma chamada da Francisca no preciso momento em que estava com a minha amiga no carro, mas isso foi há três semanas atrás. Agora já acabei com a minha amiga e estou solteiro novamente.

A Francisca aceitou vir ter comigo porque queria ver se ainda sentia alguma coisa por mim, disse que gostou de mim durante muito tempo, mas que para curar isso acabou por se apaixonar por um gajo. Tudo bem. Ou melhor, tudo mal! Ela veio no seu Land Rover e a situação foi muito simples: fomos para a praia em frente a minha casa e a determinada altura, foi mais forte do que eu. A Francisca é, para mim, uma das raparigas mais bonitas que eu conheço e já quando eu tinha seis anos lhe achava piada, até que comecei a gostar dela, mas aquelas merdas fúteis enervavam-me, o facto dela se armar em ingénua a mesma coisa, mas pronto... lá a empurrei contra o estrado da praia e beijei-a. Parecíamos loucos a dar o primeiro beijo. Foi sentido, eu comecei a chorar e a dizer que gostava dela, ela veio com aquela história de já não se igual, mas que queria tentar comigo porque ainda gostava de mim. Deve ter tido uma espécie de tesão por mim, mas nunca gostou de mim. Estacionou o carro na merda do descampado em frente a minha casa e começámos a comer-nos, ela disse que era muito cedo, mas lá acabamos a fazer oral um ao outro ou se não foi isso, brincámos aos cowboys com o chapéu a rodar nos dedos e o broxe ficou para o segundo encontro. Ela deixava-me louco, apesar de ser uma atrasada mental, uma fútil de merda e de só ler livros de merda como as Cinquenta Sombras de Grey. Não se pode ter tudo! Ela só dizia merda, mas eu gostava dela ou sentia-me atraído, não sei. A merda que mais me irritava era o facto de ela falar com toda a gente e fingir que nunca havia maldade, de me fazer de psicótico quando gajos olhavam para ela e de andar sempre na noite a dar conversa a tudo o que mexia, ela adorava sentir-se um máximo e ter toda a discoteca a olhar para ela, nunca percebi muito bem isso. E só falava em marcas, em futilidades, dinheiro e afins. Ela era querida e mandava aquelas mensagens todas queridas como eu gosto, mas lá acabou por se fartar de mim e das minhas conices de me armar em desconfiado e em controlador. Sou um conas. Não interessa, nesta noite acabámos a comer-nos e andámos nisto umas três semanas até que ela começou a namorar comigo e era tudo muito bonito... ela foi de férias três semanas para o Algarve e eu fui sempre fiel, ela sempre na noite com as amigas e eu sempre fiel, até que ela veio comigo de férias para o Gerês e aconteceu merda.

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